"Eu te busco de todo o coração; não permitas que eu me desvie dos teus mandamentos." (Salmo 119:10)

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Cortando nossas asas.

As pressões são muitas: passar numa universidade pública, para um curso "bom", formar-se com glórias nesse curso, encaixotar sua agenda com tantas atividades acadêmicas para provar que você é alguém que está correndo atrás, para demonstrar que você é interessado (mesmo que muitos eventos nem interessem, só valendo a carga horária mesmo...)... Fazer uma monografia boa, com um tema relevante e no tempo certo. Defender esta monografia. Tirar 10. Ou pelo menos 9,5 (o que já é horrível!). E aí... Procurar emprego ou se engajar na corrida de um mestrado... E ainda assim postar nas redes sociais que está muito legal, que você não está cansada nem de saco cheio da vida, nem enjoada das pessoas e que você é interessante, divertida, inteligente... Mesmo que a verdade seja que você só anda lendo as mesmas coisas sobre os mesmos assuntos faz maior tempão.

Eu não tenho saco para isso. Definitivamente. Consigo nem fingir. Muitas vezes sinto uma dor na consciência. Penso que deveria ser mais engajada, deveria ser mais eficiente, deveria participar mais e etc. E acho mesmo que deveria tudo isso, mas não consigo também não pensar que eu se eu saísse por aí fazendo isso com qualquer coisa eu só estaria me doando para muitas coisas que nem sequer me fariam bem.

Ilustração de Maio Martinéz


A verdade é que eu queria apenas poder ler o que eu quero, escrever quando eu quiser, sair pra onde eu tiver vontade e só com quem eu quiser... Mas a vida não dá pra ser assim. Eu decidi uma coisa que sei que vai fazer eu sofrer muito, tomei essa decisão meio que "inconsciente", mas agora ela se mostra mais consciente do que nunca: eu preciso fazer coisas e me engajar em outras que façam sentido para mim. É uma necessidade.

Não consigo ler algo se aquilo não me interessa, ler por obrigação é algo que dificilmente me proponho a fazer, e pago o preço por isso algumas vezes. Assistir por obrigação aí mesmo que não. Sair por obrigação (e podem reclamar) também não rola. Não sou muito de fazer "sala" nem de fazer a "social". Ou tô ou não tô. Ou meto a cabeça ou vou me meter e me enforcar, tenho certeza.

Não acredito que eu seja a única pessoa assim no mundo. Ultimamente tenho lido tantos textos de blogueiros que acompanho dizerem estar simplesmente cansados até de fazer o que eles mais gostam: escrever. Nunca cheguei num ponto de exaustão por fazer tantas coisas simplesmente porque não me permiti fazer tantas coisas, talvez até tenha chegado este momento, mas, mesmo assim, quando penso nisso, só penso em preencher com coisas que me deem prazer e façam "sentido": quero preencher com mais livros para ler, mais discografias para ouvir, mais filmes para assistir, dançar, lutar, nadar, viajar...

Voar, enfim, está difícil. Que adiantar ter/querer asas e voar num mundo onde só querem cortar suas penas?

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