"Eu te busco de todo o coração; não permitas que eu me desvie dos teus mandamentos." (Salmo 119:10)

domingo, 18 de agosto de 2013

Canalha! - Fabrício Carpinejar

Enfim terminei este livro :)
Não é um "enfim" de: "ah, que bom que esse livro acabou", até porque se tivesse mais contos e crônicas nele, eu leria com prazer. O livro é muito bom. Recomendo. Não é, como pode parecer, um manual para lidar com canalhas, mas de fato faz você aprender um pouco mais do universo dos relacionamentos. Digo relacionamentos, assim no geral, porque Carpi fala de todos, não só de eros, ele fala de pai e mãe, de irmãos, de amigos... Separei alguns dos trechos que mais me tocaram, no livro tem mais rabiscos meus, mas eu não podia colocar tudo aqui... Comprem, peçam emprestado. É um livro que conforta e entende.




"Quando voltamos para a residência familiar, separados ou exilados, desempregados ou desencantados, descobrimos o quanto eles nos amam. Amam a criança que fomos.[...] Apesar de confiramos que somos outros, os pais continuam nossa vida. Não interessa a cor do cabelo, a tatuagem, o piercing, a cicatriz, a ferida, a alegria ressentida, os fios grisalhos e os divórcios, os pais acreditam que somos os mesmos. Somos as crianças que eles deixaram crescer." (Meu quarto)


"Acorda-se com a sensação de pesadelo, dorme-se com a sensação de pesadelo. Fase de transição, em que se confia sinceramente que nada será melhor do que antes. Quem tinha humor fica cínico. Chora-se, no princípio, com força, depois o choro é um hábito, perde a concentração e vira um resmungo intermitente. Não se faz outra coisa senão remoer o tempo, repisar fotografias, vídeos, cartas. Reler e revisar o que foi esquecido no Ensino Fundamental e Médio. São meses de exílio, de sacrifício, a mostrar que se é capaz de sofrer a sério por alguém e abdicar do que mais se gostava. [...]E poderão, no futuro, amar melhor porque não mais estarão sozinhas. Estarão sempre conversando e consultando sua dor." (O vestibular da fossa)

"Amor surge ao léu, de imprevisto, sem nenhuma preparação psicológica e pesquisas de opinião. Não se passa por teste vocacional, o amor pode contrariar a carreira." (Não me apresente aos amigos)


"É incompreensível como validamos comportamentos sexuais a partir de cenas menores e insignificantes, enrustidas na roupagem de educação, cavalheirismo e cortesia." (O guarda-sol)

"Temos costume de confundir amizade com onipresença, e exigimos que as pessoas estejam sempre por perto, de plantão. Amizade não é dependência, submissão. Não se tem amigos para concordar na íntegra, mas para revisar os rascunhos e duvidar da letra. É independência, é respeito, é pedir uma opinião que não seja igual, uma experiência diferente." (Os amigos invisíveis)


"Pode me subtrair o amor, a paixão, o emprego, mas a esperança não. Minha esperança é intocável. Talvez tenha se fortalecido pela memória falha. Não sou rancoroso a ponto de planejar vinganças com esmero. Esqueço o que fiz de ruim comigo rapidamente. Tinha motivos de sobra para ser meu pior inimigo, porém me perdoo ao dormir." (Incorrigível)

"Quantas vezes proclamamos o amor precocemente? Antecipamos para que, de fato, venha. Prometemos para depois ver se acontece. Ainda que incomparável, o amor se faz pela comparação com experiências anteriores. Define-se pela sua força em sobrepujar as lembranças. É a superação do que foi vivido que valida ou não sua intensidade. Não representa  amor, e sim uma nova tentativa de amar." (Estamos chegando?)

"Sonhamos melhor com a certeza da companhia." (Os ruídos de casa)

"O homem cogita que é desfavorecido. Enquanto come, olha o prato do outro. Deveria aprender mais com os pássaros." (A fidelidade dos pássaros)

"Não é só a dor que deixa sinais, a alegria também. Indicam que exagerei. Todo excesso é amor." (Manchas)

"Quando a gente guarda a alegria, ela diminui. Quando a gente guarda a dor, ela aumenta. [...] Não sofro parelho, harmônico, um naco por vez. Sofro pra explodir, em uma única dose, até cansar de sofrer." (Média com pão e manteiga) -> uma das minhas preferidas.

"Tudo foi brincadeira, tudo será sempre uma brincadeira sádica, uma brincadeira cruel, quando apenas um dos dois estiver amando." (Não brinque comigo)

"Não devemos medir o amor pela nossa alegria. Mas pela alegria de quem nos acompanha. Nossa alegria não significa que estamos amando. Pode significar que podemos amar. É falso confiar que a nossa felicidade é suficiente para se decretar o estado da paixão. [...] Amor é esforço de compreensão, a consciência de nunca mais estar sozinho nem para morrer." (Aceiro encomendas para dentro de casa)

"Perder o pudor, não perder o respeito. Perder a timidez, não perder o cuidado. [...] Amar não é uma regra, e sim onde a regra se quebra." (Não se come uma mulher)

"Quantas frases eu guardei para um texto só porque você riu? Eu achei que era interessantes porque você riu." (Adivinhando)

"Não se aguenta o ciúme burro. Emburrece todo o resto, inclusive o que não se viveu." (Ciúme e ciúmes)

"O amor não desperdiça nenhum indício. Nenhum início. Qualquer erro de entendimento é a possibilidade do amor. O amor é o erro de entendimento. Flerto com quem não foi avisada de que está flertando comigo." (Do nada. De nada)

"Antes os amigos corriam para dentro da família, hoje os amigos são corridos." (Até os amigos têm que marcar hora)

"Ele não seleciona o que é importante, porque torna importante o que escolhe. No amor, será que somos assim?" (Por onde não olhamos)

"Pare um pouco, o mundo não vai nos demitir. A família não vai nos demitir. Os amigos não vão nos demitir. Só perderemos o que não somos." (Tempo a perder)

"Que o amor não se convence." (Um amor sem volta)

"Pode-se admirar um homem sem amá-lo. Mas não amar um homem sem admirá-lo." (Nada mais bonito do que um casal admirando-se)

"Há sempre alguém que acelera o relacionamento. Que agride antes de compreender, que julga antes de conviver. O amor não é suspeita, é superar a desconfiança. Todos se conhecem sem ao menos pedir permissão para entrar, licença para sentar e puxar a cadeira. Como se soasse um zumbido de "agora ou nunca?"". (O radinho de pilha)

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