"Eu te busco de todo o coração; não permitas que eu me desvie dos teus mandamentos." (Salmo 119:10)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Textos alterados

Escritor - pintura de Iria Blanco Barca

Não gosto de histórias mal contadas. Não gosto de histórias pela metade. Não gosto de histórias mal feitas. Não gosto de ler, de ouvir, de contar histórias ruins (não necessariamente tristes). Não gosto de histórias partidas, histórias indefinidas, de histórias com começos desgostosos e não gosto de finais. Na verdade, não gosto de poesias ao final e de novelas no começo.

I could love you more than life if I wasn't so afraid of what it all could be...

Não gosto de consertar um texto, digo e repito: o que eu escrevi, escrito está, não volto atrás. Ajeito uma vírgula ou um ponto, se realmente tiver que ajeitar, mas o texto depois de escrito já não é mais eu, já não é mais só meu. Não é justo querer voltar e reescrever. Quem reler, se reler, não lerá a mesma coisa, já estará alterado.


Depois que uma história finda, depois de uma leitura de qualquer coisa, depois de um tempo de escrita, ninguém mais é o mesmo. Eu já sou um texto alterado, entenda, por favor. Já não sou mais a mesma personagem da história que foi escrita. O começo foi ruim e talvez eu nunca suporte a ideia de ter sido assim... Talvez eu não conseguisse nunca ter continuado a escrever, porque não consegui me livrar disso. Do toque do começo, do encanto pelo encanto, porque é disso que o começo é feito: de encanto, este que, uma vez inexistente, destrói qualquer continuidade.

Eu não costumo voltar atrás nas histórias que escrevi, inclusive, depois de tê-las escrito, dificilmente as leio, pois não me sinto no direito de voltar. O texto já foi alterado, foi uma história de começo ruim e de fim... os fins não precisam ser complicados, eu mesma não gosto disso, finalizo, pronto, ponto final. Eu costumo sempre seguir adiante - mesmo que o adiante às vezes não seja pra frente.

A minha história continua sendo escrita... Torta, com problemas, e como você bem sabe, louca também. Novos roteiros, novos personagens, novos ambientes, novas vivências: já não sou mais a mesma personagem que você quer, que você diz amar, que você diz conhecer. Nem eu sei mais que personagem sou.

A sua história continua e eu não tenho ideia de como está sendo, porque eu não volto atrás para reler. Eu sou assim. Até porque, venhamos e convenhamos, eu não estaria relendo, eu leria uma coisa completamente nova, eu sei. Depois de mim e do que fiz, ninguém fica intacto. Novas histórias serão escritas, o caminho está sendo caminhado, todos ficarão bem, os finais não nos pertencem, mas todo dia, toda hora, é hora de escrever o começo de uma história nova.

Que história você vai escrever agora?
Que história eu vou escrever agora?
Quem vamos convidar para escrever nossas histórias conosco?
Será que encontraremos?
Eu quero encontrar.
Eu desejo que encontre um novo personagem para o seu livro também.
Eu quero apenas... escrever. Viver. E quero que você também.

Nenhum comentário: