"Eu te busco de todo o coração; não permitas que eu me desvie dos teus mandamentos." (Salmo 119:10)

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Somos o outro dos outros.


Quem fala o que quer ouve o que não quer. Ditado velho, não é verdade? Velho e verdadeiro!

No meu curso estou aprendendo que a maior função de um psicólogo. é ouvir. Ouvir muito mais do que falar, e falar no momento certo o que deve ser dito (o que acho que é até mais difícil), além de saber que nem sempre aquilo que você vai falar é aquilo que vai fazer o seu cliente sair do consultório feliz da vida.

Isso que pode/deve ser dito pode "destruí-lo" por alguns momentos, pode fazê-lo se sentir o mais importante ou o mais inferior do mundo, e pode ser algo que ele talvez não queira ouvir nem esteja preparado para tal. Mas isso não acontece só no mundo das terapias, a diferença é que, nesse caso, a pessoa está pagando e confia no profissionalismo do indivíduo ali em frente, então talvez até leve mais em consideração o que seja discutido, só que, na vida real, no cotidiano, este fenômeno também acontece. Sabe aquela pessoa que te conta tudo, desabafa e etc.? Aí quando tu vais dar uma opinião, às vezes um puxão de orelha mesmo, ela se zanga? Ok... ficar triste é uma coisa, ficar zangada é outra...

Tenho só 20 anos, algumas pessoas dizem que sou muito madura pra algumas coisas e pra outras não, normal, não sou a pessoa mais experiente do mundo, mas, com o que vivi até aqui, aprendi uma lição preciosa: é preciso ouvir. Temos o costume de achar que as pessoas nunca nos entenderão, que as pessoas nunca perceberão "isso" que estamos tentando dizer, ou, até mesmo, que os outros são apenas os outros e que não devemos nada a eles, que não devemos nada a ninguém, que todos querem o nosso mal. Eu pensava assim. Não me sentia confortável em contar muitos problemas que eu tinha, porque sabia que as pessoas não "iriam entender", contava apenas para quem eu achava que incondicionalmente me apoiaria, e às vezes essas também me puxavam a orelha, o que doía, só que a frase: "Sei como é... Eu te entendo." era música para os meus ouvidos. A pessoa concordava com tudo o que eu dizia, e eu pensava, "ela me entende!". Que tolice, eu achava que ela entendia tudo só porque concordava com tudo. E nem sempre é isso. Tempos depois percebi que, aqueles que falaram o contrário do que eu queria ouvir, tinham me dito muitas coisas em que eu deveria ter prestado atenção, estavam certos em muitos momentos, eles também me entendiam, mas eu não quis ouvi-los. Desconfie de alguém que te aconselha sem antes ouvir tudo o que você tem a dizer, mas desconfie também de si mesmo e de sua situação se, depois de ter dito tudo o que queria dizer, nada do que o outro falou lhe agradou ou lhe fez pensar de forma diferente, pelo menos por um instante. Talvez o outro realmente esteja errado em tudo o que disse, mas talvez você é que esteja tão imerso em si mesmo e em suas convicções, ou esteja já tão certo do que quer e só está esperando por aprovação, que nem percebe que as coisas não estão caminhando no percurso melhor ou na velocidade indicada.

Fale, seja sincero, e esteja preparado para ouvir, pelo menos se disponha a isso.


1 Sim, nem sempre nos entenderão, mas não use isso como desculpa para não ouvir. Mesmo que a outra pessoa nunca tenha passado por situação semelhante, não ignore o que ela possa ter a te dizer na tentativa de te ajudar, porque, dependendo da sensibilidade da mesma, ela pode sim enxergar detalhes que você, no olho do furacão, não enxerga. Ela pode não sentir a mesma dor e nem ficar noites sem dormir pelo que você está sentindo, mas isso não significa que ela seja uma pessoa incompreensível e que seu problema, portanto, não tem solução.

2 "Nunca vão sentir isso." Realmente, ninguém sente e-xa-ta-men-te o que o outro está sentindo, mas não imagine que, por causa disso, seu problema é único e seu sentimento também, você pode não acreditar, mas nós pensamos e sentimos muito parecido na maioria das vezes, porque algumas questões são culturais, a maioria delas, na verdade. Logo, às vezes aquilo que você acha que só você sente, quando colocado em cima da mesa, pode encontrar outro alguém que sinta beeem parecido. Isso se chama empatia. A capacidade de sentir um tanto do que o outro sente. Uma particularidade aqui e ali, sim. Somos diferentes, mas nem sempre somos tão diferentes assim. Uma pessoa que sinta empatia por você provavelmente será uma pessoa que tenha sinceridade suficiente para te dizer o que pode ser feito, ou simplesmente ficar calado, mas por perto, sempre pronto a ajudar.

3 A questão cultural nos leva a outro pensamento: "os outros são apenas os outros, não devemos nada a ninguém." Sou da opinião que as pessoas devem fazer o que acham que devem fazer. Vou coagi-las a fazerem o contrário? Coação é um termo muito forte, seria fazer o outro fazer contra a sua vontade, mas posso até tentar escutar, aconselhar, sugerir outras formas de agir, talvez até brigar, se o momento for desesperador, mas sempre lembrando que, no final, ela vai fazer o que que quiser, o que achar melhor, e pode até ser que ela saiba que não é o melhor a ser feito e que não tenha nada a ver mesmo com o que eu acho que é o melhor a ser feito. Mesmo assim isso não significa que o outro não importa. Se ficamos tão chateados quando ouvimos algo que não queremos ouvir é porque sentimos exatamente o desejo contrário: o desejo de ser amado e aceito. É porque ansiamos pela aprovação social, é porque desejamos o respeito e a compreensão sem medidas nem condições. Só que isso, além de meio utópico, é um desejo até certo ponto infantil. É importante saber que todos terão perdas e ganhos, e o ideal é saber o que perder, do que abrir mão.

4 "Não devemos nada a ninguém." Quando fazemos algo devemos assumir a responsabilidade pelo que foi feito, isso é importante. Às vezes assumir a responsabilidade significa saber que se fez o mal ao outro, que se deve pedir perdão. Às vezes assumir a responsabilidade é lembrar que alguém depende de você. Então nada de usar a máxima de que não devemos nada a ninguém. O que você faz é sua responsabilidade, mas lembre-se que você é sempre o outro de alguém, que o outro não é só uma pessoa na SUA vida, ele tem uma vida também, ele pode te amar, te odiar ou ser indiferente, mas nem sempre você não deverá nada a ele, afinal, somos seres humanos, seres sociais, precisamos uns dos outros. 

5 "As pessoas só querem o nosso mal". Se você pensa assim, então sabe que está incluído na sua própria frase, né? E agindo deste jeito, não precisará de ninguém que lhe deseje o mal, acabará causando mal a si mesmo.

Um vídeo muito bom sobre empatia, indicado por uma amiga, Joelma Santos, por quem tenho uma empatia e tanto!




Um comentário:

Ludmila Araújo disse...

A forma como tu te expressas é linda Steffi:)Esse lance da empatia é algo que me encanta.Soa algo semelhante ao que sinto quando leio um poema,crônica ou post [como os teus- ambiguamente msm ;D]. Arrisco-me a dizer que o X da questão seria esse sentimento de pertencimento, de descobrir que: 1- você não está sozinho no mundo; 2- existe alguém que passou por algo semelhante; 3- alguém está disposto a te ouvir, e a te ajudar a extrair lições/forças para superar as tuas dificuldades; 4- as dificuldades passam a ser suas e do outro!, que destaca um pedaço de si somente para demonstrar que está com você - fisicamente e "espiritualmente".Me formiga o coração essa identificação com o próximo.Sei que o desafio é amar o diferente, mas eu me amarro nas semelhanças do coração!kkk À propósito, 1-empatia imensa por vossa senhoria; 2- Tu tens 20 anos?Como assim? kkk Beijos nega. [ Só porque tenho por ela um apreço imenso(8)]