"Eu te busco de todo o coração; não permitas que eu me desvie dos teus mandamentos." (Salmo 119:10)

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Meio philo, meio sophia.

Gostaria de ver (viver também, pode ser) um romance que tivesse o mesmo tom de uma conversa sobre um livro, de uma conversa meio philo meio sophia, de uma conversa sobre um assunto polêmico, mas aquelas conversas mesmo, não aquele vômito de opiniões intransigentes onde ninguém quer ouvir ninguém. Um romance com tom de conversa intelectual ou metida à tal. 

Eu olhei alguém esperando que o amigo da mesa terminasse de ler um trecho que devia ser muito bom de um livro velho, com capa marrom, bem folheado. Ele esperava ansiosamente, com um sorriso no canto da boca, daquele que diz assim "é muito massa, né?", mas pacientemente também, esperando que o outro ali em frente se deliciasse tanto quanto ele se deliciou lendo aquilo. Claro que isso não aconteceu, mas a conversa rolou. Eles riam com desdém por não concordarem com o autor ou com alegria porque encontraram alguém que escreveu o que eles pensam, podia ser as duas coisas também, não consegui identificar. É uma delícia ver pessoas conversando assim. Um deles fala algo que contradiz e, tudo bem, não tem briga, a gente pode terminar tudo com um "é, é pra se pensar, mas..."

Mas aí a namorada do cara mais bonito chega. Acabou aquela cena tão linda de se ver! Essa discussão febril, essa troca de ideias... Por que ela não se sentou? Porque ela era muito fofinha. Sério, não sei como aquele rapaz namora aquela moça. Aquela cara de filósofo, de quem tanto pra falar e só tem uma namorada pra beijar... Preciso conhecê-la e cair na real. Preciso descobrir que estou muito errada. Ele se levantou, se despediu e foi, de mãozinhas dadas, conversando sobre alguma coisa muito desinteressante provavelmente, embora.

Eu fiquei pensando... Será que um casal de namorados podia ter uma conversa com esse tom de conversa sobre livro? Porque há de se pensar que é necessário que eles concordem em quase tudo, não é? E se não? Há de se concordar que geralmente a namorada ou o namorado vão peneirar aquilo que o outro lê, "mô, não liga pra isso não, nem lê essas coisas!"

Eu fiquei pensando: seria possível um casal conseguir conversar com aquele mesmo sorriso de desdém ou de concordância, com aquela mesma paciência, com o mesmo jeitão de "tudo bem, você não concorda comigo, mas tudo bem"?

E outra: ainda tem o contato! Conversar sem beijinhos, sem mãos dadas, sem aquela "cumplicidade" assumida e aquela coisa que fica na cara de "não importa a bobagem que ele falar, vou concordar com ele!", ou pior: "tô com vergonha do que ele tá falando", ou pior!: "mô, não fala isso, não quero que falem de você".

Será possível? Ah, meu Deus, tem que ser. Eu quero um romance assim. Eu quero um romance onde eu possa sentir que por alguns minutos eu não namoro com aquele ser inteligente ao meu lado e possa vê-lo como só mais uma opinião. Só mais uma opinião, que pode não ser a minha. Que eu possa ter a certeza que fora dali seremos dois de novo e nos respeitaremos, e as discordâncias não soarão como provocações idiotas e nem o mal estar que comumente às vezes surge nesses debates irá também estar presente na conversa de depois, de nós dois.

Mas ninguém deve estar entendendo isso aqui. Deve ser tão idiota que a melhor imagem que consegui pra esse post ridículo foi aquela mulher com o livro. E só porque lembrou a minha pessoa observando, não a cena que eu queria ver. 

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