"Eu te busco de todo o coração; não permitas que eu me desvie dos teus mandamentos." (Salmo 119:10)

domingo, 24 de abril de 2016

Smashed (2012)




Smashed (2012 - "De Volta à Realidade"), é um daqueles filmes em que muita gente não acredita ou não considera ser interessante para assistir. A sinopse foi sugestiva o suficiente para me aguçar a curiosidade:

Kate (Mary Elizabeth Winstead) e Charlie (Aaron Paul) formam um jovem casal cuja união se deu pelo amor que ambos sentem pela música, pela diversão e pela bebida... Principalmente pela bebida. Quando o consumo de álcool começa a levá-la a lugares perigosos e põe em perigo seu trabalho como professora, ela decide procurar os Alcoólatras Anônimos e se manter sóbria. Com a ajuda de sua nova amiga e protetora (Octavia Spencer) e do vice-diretor do colégio onde trabalha, o estranho mas bem-intencionado Sr. Davies (Nick Offerman), Kate toma providências para melhorar sua saúde e sua vida. No entanto, manter-se sóbria não é tão fácil como Kate imaginara. Seu novo estilo de vida revela um relacionamento complicado com sua mãe, fazendo-a enfrentar as mentiras que contou a sua chefa (Megan Mullally) e põe em dúvida a razão de seu casamento com Charlie: amor ou medo de enfrentar a vida adulta? (Filmow)

O tema

Não que o tema não seja recorrente, mas ainda são poucos os filmes que falam sobre a temática ser uma coisa coadjuvante e sim o centro de um problema real e com suas diversas nuances e relações. O mais interessante neste filme é que isto ficou envolto num ar de romance... A sinopse deixa a entender que a relação deles é o tema central da trama. E não é.

O dia seguinte

Bem, não sei qual a sua relação com bebidas alcoólicas. Mas posso falar um pouco da minha, perdão por fugir um pouco do tema do filme no momento:
Meu pai é alcoólatra, ele não admite isso (embora eu acredite que no fundo ele saiba disso) e nunca procurou ajuda. Eu já tentei ajudar de algumas formas, mas não consigo ter muito progresso (aquele lance de ser uma escolha e tal...). Eu tinha muito ódio de qualquer coisa relacionada à bebida alcoólica, até que eu mesma comecei a beber. No começo, pouco, depois, muito. Após muitos finais de semana em série virando as noites com grades e grades de cerveja, fui ficando muito fraca: apenas algumas latinhas e eu vomitava - começou a me fazer mal. Parei por um tempo. E, após um tempo, depois de um determinado acontecimento, eu voltei a beber como antes. Quase todos os dias, em uma quantidade relativamente alta para a pessoa que no dia seguinte tinha que ir trabalhar cedo. Fiz coisas que não queria ter feito (ou que queria, mas sóbria não conseguia e sabia que não devia). Enfim, esta é a pior parte de tudo isso: o dia seguinte.


Eu já acordei algumas vezes fora de casa ou sequer tinha dormido, quando via estava de manhã, eu num bar com outras pessoas que tinha conhecido na noite anterior e lá estava eu lavando o rosto (agradecendo por sempre andar com escova de dentes, desodorante e creme dental) e indo para o trabalho com a mesma roupa do dia anterior, ou para uma audiência judicial (sim, isso aconteceu), ou indo visitar meus afilhados (com muito sono e sem conseguir brincar com eles direito). O dia seguinte é muito ruim. Ressaca é muito ruim. Sentir que você está saindo muito do caminho é muito ruim. Perceber que você está perdendo o controle é muito ruim. Não sou alcoólatra, eu sei disso. Eu consigo ficar sem beber (embora quando eu comece tenha dificuldades de parar), consigo sair sem beber, mesmo sendo difícil, e não bebo todos os dias (inclusive faz tempo que não bebo), mas tenho muito medo de ter problemas com bebida (principalmente considerando minha história familiar). Quando percebi que meu dinheiro não estava rendendo nada, porque eu estava gastando muito com isso fiquei: "Nossa, como assim!? Que fútil!". Quando me dei conta de que alguns lugares estavam "chatos" porque eu não estava bebendo, fiquei me questionando sobre o porquê de eu estar ali realmente. Não sou umas daquelas pessoas que acha que todo mundo tem que parar de beber e de que a bebida é um ente demoníaco, mas confesso que hoje tento controlá-la e não deixar que ela me controle. Agora, voltando ao filme, ele fala muito sobre essa sensação: a do dia seguinte. A de ficar assustada e envergonhada. Isso acontece muito com a Katie, personagem principal, e foi uma coisa que eu reconheci e me identifiquei. Não cheguei no limite em que ela chegou, mas sinto que todo cuidado é pouco. E que o pouco pra mim é muito. 

Os amigos

O filme também tem uma sensibilidade pra falar disso. O social é um ponto muito delicado quando se trata de qualquer dependência química: a pressão e o poder que as pessoas têm de nos desestabilizarem e nos induzirem em nossas fraquezas são muito grandes. E a Katie passa por isso de forma muito centrada, é verdade, o que exige uma boa dose de empenho, motivação e mais que tudo: disciplina e foco.

Os problemas que agora você enxerga

A partir do momento em que Katie começa a ficar sóbria, ela começa a enxergar muitas coisas que antes não conseguia, obviamente, ver. E tudo fica muito mais complexo e muito mais difícil de lidar. O mundo é assim pra quem se mantém sóbria: às vezes desesperador  e confuso. É preciso muita maturidade, resiliência e tranquilidade para viver. E é por isso que tantas pessoas se enchem de placebos para continuarem aqui. Não as julgo. Viver é realmente uma tarefa difícil.

O suporte


Viver é uma tarefa difícil e é por isso que todos nós precisamos, dependentes ou não de algo, de uma rede que nos suporte. De pessoas que amamos e que nos amem e que fiquem ao nosso lado nos momentos em que precisamos. Katie descobre isso da maneira mais difícil.

A renúncia

A maior parte das coisas grandes que acontecem na vida exige uma grande renúncia. Identificar que é possível um outro caminho é renunciar um caminho que não está mais levando a lugar algum. A renúncia, não só de usufruir de algo, mas de viver de uma determinada forma, é algo muito duro. E no faz questionar se...

É o fim ou o começo?

E é assim que o filme termina. Um grande spoiler de nada, perdão. Mas é assim mesmo que eu me senti: isso é o fim ou o começo?

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