"Eu te busco de todo o coração; não permitas que eu me desvie dos teus mandamentos." (Salmo 119:10)

domingo, 22 de junho de 2014

Perdão é para os fortes.


Eu aprendi a teoria, e confesso que a teoria é difícil. Mas não é impossível de entender. Parto do maior exemplo de perdão que tenho e que acredito que o mundo tem: o de Jesus.

Jesus era o Filho de Deus, perfeito, incorruptível, homem e Deus ao mesmo tempo. Sentiu raiva, sentiu tristeza, sentiu alegria... Ele não fez nada de mal a ninguém e não tinha como ser culpado de nada, mas foi, pelo seu próprio povo, um povo hipócrita e medíocre. Jesus foi culpado e levado à morte, e, mesmo assim, perdoou e perdoa quem se achega a Ele com sinceridade.

O ser humano tem os sentimentos mais loucos do mundo, não duvido de nada. Nós sentimos raiva quando não há necessidade, sentimos ciúmes quando não há razão, sentimos medo quando não é próprio, somos um emaranhado de sentimentos onde tudo se perde e tudo se encontra. Somos constantes encruzilhadas, tendendo sempre pela escolha que nos favorece. Esse é o nosso erro. A prática de perdoar exige de nós abdicação daquilo que nos convém, daquilo é que melhor para o nosso ego, exige de nós lembrar sempre do que Jesus pediu: "negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me!" (Mt 16:24)

Aprendi o que é perdão com Jesus, e Ele chegou invertendo tudo. Muitas vezes esperamos que venham nos pedir perdão (e às vezes com razão, outras não) e nos achamos fortes e firmes porque não seremos nós os que vão "desistir". Esta é a primeira noção quebrada por Jesus quando falamos de perdão. Perdão é para fortes, ser perdoado PODE ser algo que aconteça.


Crescemos acreditando nisso: que se alguém nos deve algo, é nosso direito cobrar. Que se alguém nos faz algo, é nosso direito revidar. Que se alguém fez algo para nós, é nosso direito nos afastarmos e nos mantermos "firmes". Firmes em quê? Em nossas próprias convicções e não no que aprendemos de Cristo.

Cristo foi simples e claro quando falou que se alguém quiser nossa túnica devemos dar a capa também e que não devemos resistir ao perverso.

"Vocês ouviram o que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente’. Mas eu lhes digo: Não resistam ao perverso. Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe também a outra. E se alguém quiser processá-lo e tirar-lhe a túnica, deixe que leve também a capa. Se alguém o forçar a caminhar com ele uma milha, vá com ele duas. Dê a quem lhe pede, e não volte as costas àquele que deseja pedir-lhe algo emprestado". (Mateus 5:38-42)

O que é não resistir ao perverso? Não deveria ser o contrário? "Resista ao perverso! Não ceda!" Deveria ser assim, não é?

Mas Jesus não ensinou assim. Ele disse que não devemos resistir ao perverso. O que entendemos por resistir?

"Eu vou resistir! Não vou dar o que ele quer!" "Vamos ver quem aguenta mais tempo!"

O que essa atitude gera? Intriga. E bem-aventurados são os pacificadores (Mateus 5). Alguém se deixa vencer pelo cansaço. É como aquelas discussões de casais: você quer fazer X e outro Y. Vocês discutem e o outro aceita fazer o X, porque não aguenta mais a discussão e não porque X é o melhor a ser feito, você, percebendo isso, decide fazer X sozinho... E por aí vai. Todo mundo quer ser entendido. Eu gosto quando meu argumento convence não por causa do cansaço, mas porque ele é realmente bom e válido. Não quero ninguém ao meu lado por obrigação, eu não gosto e com certeza o outro também não, além de que as consequências disso serão muito ruins a longo prazo : geram mágoa, raiva, orgulho ferido, sentimento...

Perdoar é para os fortes. E os fortes são aqueles que diante de Deus colocam suas tristezas, mágoas, raiva, dúvidas e dizem: "Senhor, eu estou odiando isto, mas quero perdoar, porque não gosto desta situação."

Perdão é uma decisão, se esperamos nos sentir bem para então perdoar, nunca vamos de fato conseguir entender o que é perdão de verdade. Pelo contrário, estaremos nos entregando à nossa vontade de reconhecimento, amor retribuído e etc. Precisamos nos negar continuamente!

Perdoar não significa ser perdoado. Pedimos: "Perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido." Percebam: nós devemos perdoar porque Deus nos perdoa, não fala nada sobre sermos perdoados por quem magoamos. Muito menos perdoar só se alguém vier me pedir perdão.

O perdão liberta, porque quando não se perdoa plantamos e cultivamos a mágoa e o rancor, a raiva e o desprezo. Perdoar é assumir a posição de não querer que isso se torne um bola de neve e vá lhe consumindo a vida inteira, lhe tornando uma pessoa amarga. É não esperar retribuição.

Perdoe porque é seu dever e não porque lhe apraz. Perdoe porque é o melhor. Se você for perdoado também, que ótimo, tudo pode continuar bem. Se não, você fez sua parte e é vida que segue, segue sem o peso de não ter feito o que devia ter sido feito. Sem o peso de não ter tentado que desse certo.

Perdoar não significa que voltarão a ser melhores amigos, que o condenado então é inocente... Perdoar é não plantar rancor, é amar. Amor e perdão são decisões e não "sentimentos".

Um comentário:

Paiva JR disse...

"Perdoar" está dentro do presente, que ganhamos quando confiamos em Deus, entre outras coisas. Particularmente eu demoro pra entregar tudo a Ele e fico mal por isso, mas quando isso acontece... caraca, é bom demais, a gente vira neném e não há com o que se preocupar...
ótima interpretação, muito bom ler esse post numa madrugada de insônia pós ceia de natal..rs
bjo