"Eu te busco de todo o coração; não permitas que eu me desvie dos teus mandamentos." (Salmo 119:10)

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Conservador ou porra-louca: nenhum, obrigada.




Eu pensei em escrever isso no mural do meu perfil no Facebook, mas acabei desistindo por vários motivos. Um deles é a minha dificuldade de me posicionar e a dificuldade da humanidade de saber questionar e dialogar sem a necessidade de acessar o mode língua ferina. Isso me incomoda muito e, por isso, apertei o botão do Jaiminho no meu cotidiano e ultimamente tenho vivido querendo "evitar a fadiga".

Mas uma coisa muito, no mínimo, intrigante, anda acontecendo na minha universidade. Recentemente um encontro chamado de "I Encontro da Juventude Conservadora da UFMA" foi divulgado, em resposta ao movimento um outro evento na mesma data, supostamente acontecerá (não sei se o pessoal está só provocando ou se realmente algo está sendo organizado), o "I Seminário da Juventude Porra-Louca". Bem, memes e piadas (até de minha parte) à parte, sabemos que esses eventos são o reflexo de um grande embate ideológico e de tom maniqueísta que estamos vivendo em nosso país nos últimos anos, mais fortemente observável agora com a disputa PT x PSDB, Dilma x Temer e etc. Bem, acabo de citar uma das coisas que mais me irrita nisso tudo: o maniqueísmo. Ao que me parece a consciência política de boa parte das pessoas (e de muitos jovens) é baseado numa filosofia Power Rangers, bem versus o mal e simples assim. Não sou nenhuma bambambam da política, mas pelo menos consigo perceber claramente que, em nosso sistema político pelo menos, esses dois lados não são tão claros e fixos como percebemos.

Ultimamente, andei refletindo sobre a importância de se posicionar sobre determinados assuntos. Confesso que isso me amedronta e explico o porquê a partir destes dois exemplos de eventos:


I Encontro da Juventude Conservadora: o que aqui me irrita e, sinceramente, me entristece, nem é o conservadorismo em si. Eu mesma sou conservadora em relação a diversos assuntos, mas o tom mercantilista da coisa é extremamente preocupante. O encontro dos jovens porra-louca foi considerado como uma expressão de intolerância, mas quando li na página que um dos objetivos do grupo de estudos que deu origem ao encontro é de "substituir os formadores de opinião que aí estão que em nada contribuem para um debate honesto" não percebi também um tom de tolerância e respeito que tanto falam que fazem parte de seus preceitos. É verdade, eu concordo, que há muitos comentadores de plantão que não trazem nenhuma informação relevante e importante a não ser a de causar mais furdunço na coisa toda que já está bagunçada, mas como saber de quem de fato se fala? De todos os que não, portanto, conservadores? Quem não é conservador então passa a ter automaticamente suas opiniões como desagregadoras? Vale lembrar que há muitos conservadores que temos que admitir que também não priorizam um debate honesto. É uma incoerência atrás da outra quando lemos que a missão de tudo é "Balancear o debate DIREITA X ESQUERDA". Sério? É para balancear mesmo ou tem a intenção de substituir?
O lema do evento: "O conservadorismo, a boa literatura e a alta cultura"

Olha, só pra contextualizar o leitor, nasci e moro num bairro de periferia considerado o "berço da cultura popular". Nunca escondi de ninguém onde moro e como gosto daqui, assim como as mazelas do local. Outro dia, recebi uma carona de um ex-morador do bairro há muitos anos, no caminho ele falou que não sabia de onde o povo tinha tirado a ideia de este lugar ser berço de qualquer cultura que seja, que até os cantores que ainda moram ali não têm cultura nenhuma, que ali só o que tem e sempre teve foi muito tráfico. Eu pensei em argumentar, mas vi que não valeria a pena. Fiquei calada com meu coração triste e minha cabeça a mil pensando: é bem possível que realmente os cantores que ainda moram ali não conheçam nada de música clássica, jazz, canto gregoriano ou qualquer outra coisa da "alta cultura", mas são pessoas talentosíssimas e de um determinado estilo, mas para o senhor que me ofereceu carona nada disso era "alta cultura."

O que é "alta cultura"? Um conservador maranhense, portanto, não pode gostar de bumba-meu-boi, porque imagino que isso não deve estar encaixado no conceito de alta cultura. Quiçá ouvir um pagode ou um forró... É o que a fala me transmite. A mesma coisa é a "boa literatura". Nunca gostei de literatura fantástica, nunca li um Harry Potter sequer, quando era mais jovem achava que isso era coisa pra adolescente besta (eu ainda adolescente, e muito besta por sinal), que massa mesmo era ler Gabriel García Marquez e muito Doistévsky (a adulta, a diferentona da época). Continuo não gostando de literatura fantástica, mas hoje reconheço a importância de um Harry Potter na vida de muitos adolescentes. Meu exemplo parece ser meio besta, mas o que em resumo quero dizer é: quais são os critérios para definir o que é a boa literatura? Boa pra quem? Boa por quê? Boa dentro de qual padrão? Boa dentro de qual contexto? Pense aí num adolescente de classe baixa do bairro pobre: se ele ler pelo menos uma revista de fofoca já vai ser um avanço (depois a gente oferece outras coisas, processualmente). Conversando com uma professora sobre o assunto, a palavra que ela usou para definir suas sensações é a mesma que utilizarei agora: é de uma prepotência muito grande fazer tais afirmações. Sinceramente, em vez de agregar pessoas para o diálogo só faz afastar.

Para piorar tudo, o movimento deixa bem claro que tem como objetivo reafirmar valores cristãos. Ótimo! Era só mais isso que os cristãos precisavam para serem mais "amados" ainda (que dirá os protestantes).


Depois temos o I Seminário da Juventude Porra-Louca: olha, eu não tenho nada contra os porra-louca, quem quiser ser e entrar nesse mundo, não serei eu que ficarei aqui de julgatielly, eu mesma tenho minhas fases assim e quem me conhece e vive comigo sabe que quando eu perco meus limites morais, eu perco mesmo. Não estou falando isso orgulhosa, até porque o meu lado conservadora sempre me acusa depois e eu reconheço que muitas coisas são simplesmente desnecessárias e apenas "tapa-buraco" de um vazio muito grande, mas, ENFIM, o que quero dizer é que quando temos uma resposta ao I Encontro da Juventude Conservadora temos a resposta desta forma:


Engraçado acharem que os conservadores não tomam um copo de cerveja ou jamais ficam bêbados (insisto em dizer que estas coisas bestas estão para além de ideologias políticas, a capacidade de colocar o pé na jaca é de todos ser humano rs). Se a intenção é causar e ofender mesmo, ótimo. Deu muito certo. Mas, sinceramente, analisando os dois lados, eu fico sem nenhuma vontade de entrar em contato com NENHUM dos DOIS. Seria muito bom se esses espaços de discussão de filosofias Direita e Esquerda não se importassem tanto com o X que insistem em colocar bem no meio, transformando tudo numa briga infantil e sem agregar nada além de reforçar uma cultura do ódio e da falta de diálogo.

As coisas estão bem encaminhadas mesmo, como podemos ver.

Obs.: não tenho nenhuma, repito, nenhuma intenção de com este desabafo defender um ou outro, como eu acabei de informar, é um desabafo. E um cansaço também.

Um comentário:

Anônimo disse...

Tu só escreveu merda, só "achismos" sobre alta-cultura, conservadorismo e afins, colocou palavras na boaca das pessoas. Que grande porcaria, honestidade intelectual de merda.