Ilustração de Christoph Guher |
Sempre que isto acontece comigo posso afirmar que sim, é incômodo, mas também é um bálsamo, porque não importa quantas vezes eu escreva sobre este mesmo tema, que vai na contramão do que a gente é ensinado a viver por aí, ainda assim é muito difícil pra mim e eu preciso ficar continuamente me relembrando disso. Negar-se é a coisa mais difícil a se fazer. E é a primeira coisa que nos é solicitada.
Quem quer se negar? Quem quer abrir mão daquela autoestima maravilhosa? Quem quer abrir mão de achar que é legal, interessante, divertido, essencial, importante na vida de alguém? E mesmo que seja... Quem quer abrir mão da certeza disso? A gente se ama demais. Ama pouco o amor sem volta. Quando sou ignorada ou rejeitada é um baque. Eu caio uns dez degraus escada abaixo me arrebentando toda pra chegar lá no fim e me tocar de que "Pera aí, mas porque eu queria ficar lá em cima?". A gente sempre quer ficar por cima, quer sempre se sentir bem, quer se sempre extremamente querido, desejado, amado.
Eu tenho a máxima (e tento vivê-la) de que não exigir do outro reciprocidade é a coisa mais amável que você pode fazer ao outro. Você o livra do peso de ter que corresponder aos seus sentimentos que sabe-se lá quais são. É preciso negar-se. Negar-se todo dia!
Contentar-se em ser livro de bolso, brigadeiro e não o bolo todo, a flor sozinha e não o buquê inteiro, a pequeneza que no fim... é grandiosa de tão bela e simples. Nada mais evoluído do que libertar-se de si mesmo. E desse amor-próprio que muitas vezes é danoso. Agora, dói, é verdade. E cada queda da escada é garantia de hematomas, mas também de aprender a subir escadas direito e, além disto, as escadas certas, também aprender o momento de não subir escada alguma. Enfim, vamos parar com essas analogias, a questão é que nem sempre esse amor todo que temos por nós é o que as pessoas têm por nós também. E isso não deve importar muito. A gente tem que amar do mesmo jeito...
Então Jesus disse aos seus discípulos: "Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Mateus 16:24
Não quero ser manual desses feitos pra não ler e que nenhum sebo quer ter, muito menos ser jornal pra informar ou entreter se amanhã embrulho eu serei, nem quero ser um best-seller de ocasião, repetição, ou mesmo um livro tão genial anos à frente do tempo, mas quem tem tempo? Eu me contento em ser livro de bolso de papel cheirando a novo, bom igual conversa de quintal, poema de esperança em meio à dor escrito em fonte arial, um rascunho à espera da versão final. Pois sou rascunho de uma tradução do verbo que se conjugou, rodapé do texto principal, orelha que aponta para o autor, história que não tem final. E que sempre foi tão sua quanto minha, e que sempre foi de um rei que deu sua vida e que sempre foi tão sua quanto minha...
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