Refletiu e decidiu ver bem mais para trás: não enxergou uma infância tranquila, uma infância bonita. Procurou colocar nisso a culpa para tanta amargura e embora fizesse sentido, desistiu, pois colocar nessas coisas a responsabilidade de serem a fonte das suas dúvidas também não seria fácil de lidar e ela não quer lidar com mais nada.
Muitas foram as vezes que decidiu pôr o preto no branco e tentar desafogar, deixar as lágrimas rolarem e se aceitar aos pouquinhos. Funciona por um tempo, mas sempre que acha que está no caminho certo, algo acontece e diz que não. Entristeceu, pois as palavras, por mais belas e próximas que sejam, ainda não substituem a presença, o riso, o abraço e a voz ouvida de perto.
Perdeu sua amizade, ficou decepcionada consigo mesma, precisou parar. Parou tudo.
Ainda hoje sente a vergonha e a raiva de si por tudo o que não teve condições de evitar. Ela sabia que ele a aceitava do jeito que era, imperfeita, mas ela queria ser aceita de forma mais ampla, mais inteira.
As equações eram muitas, as redes variáveis, ela não poderia lidar. Até pensou que sim, mas pensou sozinha, desistiu. Deveria ter desistido mesmo. Fez o certo. Disso ela não fugia, simplesmente fazia. O certo era fazer o que era certo a se fazer. Fazia. Sofria e pronto. Ponto.
Agora seus círculos vão se fechando e só fica quem tem um pouco dessa desordem que ela tem. Ela se encontra em alguns alguéns, alguns se encontram nela também. A cura vai e volta, através de palavras, de escutas, de escritas... A desordem dela, aos poucos, já não fica mais tão desordenada assim, é fácil: descobriu que o que tem que ser sentido precisa ter sentido.
Cenas do filme "Mary and Max" (2009)
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