"Que podes uma criatura senão,entre criaturas, amar?amar e esquecer,amar e malamar,amar, desamar, amar?Sempre, e até de olhos vidrados, amar.Que pode, pergunto, o ser amoroso, sozinho, em rotação universal, senãorodar também, e amar?amar o que o mar traz à praia,o que ele sepulta, e o que, na brisa marinhaé sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?Amar solenemente as palmas do deserto,o que é entrega ou adoração expectante,e amar o inóspito, o áspero,um vaso sem flor, um chão de ferro,e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.Este o nosso destino: amor sem conta,distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas, doação limitada a uma completa ingratidãoe na concha vazia do amor a procura medrosapaciente, de mais e mais amor.Amar a nossa falta mesma de amor e na secura nossaamar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita. "Amar - Carlos Drummond de Andrade
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"Eu te busco de todo o coração; não permitas que eu me desvie dos teus mandamentos." (Salmo 119:10)
quarta-feira, 4 de abril de 2012
Amar, Drummond
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