De Frederico Mattos, postado original no blog Papo de Homem.
"Fred, tenho um amigo que é aparentemente tão normal quanto qualquer outra pessoa. Trabalha, é considerado um bom profissional, namora, sai com os amigos.
E cheira cocaína. Bastante.
Faz isso todo final de semana e algumas vezes durante a semana. Mas o problema é que ele parece acreditar que controla essa relação com a droga.
Acho que sou a única pessoa mais próxima que não usa drogas e sabe do que ele está vivendo de verdade, já que grande parte do atual círculo social dele também usa drogas e considera isso ok.
Como ajudo o meu amigo viciado que acha que não está viciado? E será que eu assumo essa responsabilidade ou deixo isso pra família ou pra ele mesmo se resolver?"
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Engraçado você começar explicando que seu amigo é normal, trabalha, tem namorada, sai com os amigos e... cheira cocaína. Normalmente, a imagem que temos do viciado em qualquer coisa é uma figura meio pálida e decadente, mas a convivência com qualquer substância ocorre em qualquer lugar, de pessoas lindas, coradas e cheirosas até maltrapilhos sem rumo, ela não faz distinção de gênero, classe, raça ou religião.
Definir o vício não é nada simples e muitos que me procuram no consultório por conta de questões com o uso de substâncias me perguntam porque algumas pessoas enlouquecem ou se tornam dependentes em determinadas situações e outras que atravessaram o mesmo tipo de experiência seguem bem e vivem tranquilamente. A resposta não é tão matemática, mas existem personalidade mais vulneráveis, que diante de certos tipos de situações e efeitos psicoativos, deixam aflorar problemas que estavam enjaulados nos porões da personalidade.
Muitos defendem o uso indiscriminado, pois alegam que não são essencialmente perigosas, que já usaram (ou usam ocasionalmente) por uma fase na vida e não ficaram viciadas. Outras pessoas, no entanto, fizeram o mesmo uso ocasional ou regular e entraram numa maré de de uso abusivo da droga e não conseguiram parar.
Quem é vulnerável ao vício?
Não importa se é com jogo, droga, sexo ou comida, o vício ativa regiões muito parecidas do cérebro e cria um ciclo de dependência que varia muito de pessoa para pessoa, visto que são mentes e biologias diferentes.
A personalidade vulnerável tirada do contexto social e biológico não se explica isoladamente. Por esse motivo, é muito difícil prever qual será o efeito de uma droga na mente de uma pessoa. A quantidade de pessoas que ignora suas vulnerabilidades emocionais podem iniciar um caminho sem volta, então, é possível abrir espaço para refletir que perfil seria esse. E como saber a que tipo de substância ou situação você será vulnerável? Não há uma resposta simplista, mas algumas pistas que estão longe de retratar todas as possibilidades.