O ambiente era escuro, tinham algumas luzes avermelhadas, azuladas, num tom baixo, se é que você me entende. Havia um vestígio de fumaça de cigarro me recebendo no ambiente, certamente soprado pela mulher de vestido branco que acabara de passar por mim, saindo daquele bar escuro e frio. Olhei para trás levemente, só vi sua silhueta despedindo-se dos olhares que a seguiam.
Sentei sozinho e um jazz ao fundo tocava. Não gosto de jazz. Não entendo as batidas, embora tão bem acertadas, sempre tão incertas. Tal como ela que neste instante, descobrindo os meus pensamentos, acaba de entrar. Uma blusa preta de gola alta, coque no cabelo, sem batom, mas com uns brincos gigantes, uma saia de cintura alta e rodada, florida, e uma sapatilha verde que só combinava mesmo com a cor dos seus olhos e as pequenas folhinhas que adornavam as florzinhas que estampavam suas pernas. Tatuagem no antebraço, algo que nunca consegui ler.
Ela tem um jeito estabanado de chegar, sorri para mim e, por causa disso, sem olhar por onde anda, bate com sua coxa na cadeira ao lado, pede desculpas aos amigos da mesa, que nem ligam para ela. Sorrindo ainda, meio envergonhada, ela caminha em minha direção. É delicada, igual o piano que toca agora.