"Eu te busco de todo o coração; não permitas que eu me desvie dos teus mandamentos." (Salmo 119:10)

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Com que tinta você anda pintando seu quadro?


Under One Umbrella - Leonid Afremov

Outro dia vi uma postagem num blog em que eram enumeradas algumas coisas que faziam as pessoas ficarem mais inteligentes, uma delas era as relações. Dizia que geralmente nosso QI vai se "igualando" às cinco pessoas mais próximas de nós, algo assim; bem, gostaria de ter encontrado o link da reportagem, mas, de qualquer forma, é apenas uma pesquisa que não considera outros contextos sociais também, diga-se de passagem, entretanto, ainda assim é uma informação que me chamou bastante atenção.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Meu melhor borrão

            "The Way In Which We Change" - Nick Lepard

Eu ainda vejo suas coisas. E outro dia eu chorei por você. Fazia tempo que eu não dava vexame, dizem que bêbados sempre falam a verdade, não é? Olha, acho que eu quero que você, especificamente você, seja o motivo de eu estar sofrendo. Eu já desperdicei muitos amores. Eu já recebi poesias e cartas, músicas e filmes, vidas que podia ter vivido, mas não desperdicei a doação. Eu me doei e não me arrependo disto.

Eu sei que deixei em você, além de mágoa, raiva e decepção, também um sorriso decorrente de lembranças que, tenho quase certeza, vez ou outra aparecem (mesmo que em seguida com o sentimento de raiva) no seu cotidiano de coisas que eu que lhe apresentei, eu que lhe ensinei, eu que lhe dei. Eu tenho quase certeza que não pode ser que em tão pouco tempo seja possível livrar-se de mim assim.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Ficando no casulo

Obra de Pablo Gonzalez
Cá estou eu aqui novamente. Como uma vez bem semelhante fiquei: tentando acordar.
Quando fico muito confusa ou muito cheia de coisas acabo transbordando e a única coisa que me vem à cabeça é me isolar. Eu tento tirar o máximo possível de tudo o que pode me distrair. Tento focar no processo de ficar no casulo. Às vezes dá trabalho, porque em tempos de comunicação excessiva é preciso um grande empreendimento para ficar sozinho.

Quanto custa ficar só! Quanto custa requerer este momento pra si. Não era pra ser assim. Mas é compreensível também o porquê de ser tão trabalhoso. O estado de solitude não é um estado compreendido pelo mundo. Não é algo esperado por ninguém. Ficar sozinho voluntariamente, viver este momento de reclusão por livre e espontânea vontade não é visto com bons olhos.

Girassóis - Caio Fernando Abreu



Tenho aprendido muito com o jardim. Os girassóis, por exemplo, que vistos assim de fora parecem flores simples. fáceis, até um pouco bruta.

Pois não são não. Girassol leva tempo se preparando, cresce devagar enfrentando mil inimigos, formigas vorazes, caracóis do mal, ventos destruidores. Depois de meses, um dia, pá! Lá está o botãozinho todo catita, parece que já vai abrir.

Mas leva tempo, ele também, se produzindo. Eu cuidava, cuidava e nada.

Porque tem outra coisa: girassol quando abre flor, geralmente despenca. O talo é frágil demais para a própria flor, compreende? Então, como se não suportasse a beleza que ele mesmo engendrou, cai por terra, exausto da própria criação esplêndida. Pois conheço poucas coisas mais esplêndidas, o adjetivo é esse, do que um girassol aberto.

Girassol dura pouco, uns três dias.

Caio Fernando Abreu

domingo, 8 de novembro de 2015

Morena

Morena era jovem, dezesseis anos, magrinha, mas carnuda, seios crescendo, sorriso largo, cabelos compridos e castanhos, com pequenas ondas nas pontas, sobrancelhas bem finas, lábios grossos, e apesar de Morena, era branquinha. Pele macia e boa de bronzear, diferente das demais branquinhas não ficava avermelhada, mas com um dourado que realçava os seus olhos, ora verdes, ora acinzentados, perfeitos para quem mora numa cidade de interior: o sol rachando, a terra em alguns cantos ainda vermelha, os rios de tons verdes acompanhando os caminhos, as árvores aqui frondosas ou ali quase mortas, com olhos que não se sabe de que cor são e que podem ora ser da cor da água que acompanha a travessia, da cor do céu ou da cor que quem olhar, quiser.
Morena não tinha grandes aspirações, aos dezesseis anos pensava apenas em terminar o ensino médio e o que quer que aconteça depois seria lucro. Não passava muito tempo pensando nessas coisas, apesar de não levar uma vida relativamente corrida para não ter tempo ou ter medo, simplesmente não pensava. Aos dezesseis anos não se precisa pensar nessas coisas, haverá tanto tempo e pressão para se pensar nelas, que é melhor Morena aproveitar este tempo de ócio e descobertas com coisas bobas e ao mesmo tempo importantes.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Caindo as escadas

Ilustração de Christoph Guher
Uma das melhores coisas que podem nos acontecer vira e mexe é ser ignorado/rejeitado. É uma coisa que geralmente (talvez por carência) faz você parar e pensar: "Nossa, não sou tão importante assim." Não somente isso, mas é um momento que lhe garante uma reflexão sobre o que você está passando, quem você é, por que você quer aquilo que não recebeu (quase sempre um tipo de reconhecimento, muitas vezes vulgar) e por que você acha, mesmo que inconsciente, que o outro tem que lhe dar isto que você acredita ser merecedor de receber.