"Eu te busco de todo o coração; não permitas que eu me desvie dos teus mandamentos." (Salmo 119:10)

domingo, 30 de junho de 2013

O (des)apego (des)carrega, meu bem.



Deixa eu te contar uma coisa que o tempo e as amarguras fez com que eu, jovem e pequena, aprendesse:

A primeira é que não existe nenhum erro no mundo que um ser humano não possa cometer. Isso serve pra mim e pra todos nós. Como eu lido com isso? Não é fácil. Eu não crio mais expectativas sobre ninguém, ou pelo menos tento. Não afirmo mais nada sobre as emoções alheias, ou pelo menos tento. Isso é bom tanto pra mim, que não sofro tanto caso façam algo que me magoe, como para os que estão ao meu redor também, que se verão livres do peso de terem que, por alguma razão idiota, demonstrarem algum tipo de sentimentalidade para com a minha pessoa além de que também não se sentirão pressionados a estarem presentes na minha vida por "amor".  Também não fico me colocando em situações tentadoras querendo testar minha resistência, já aprendi na marra e no ato, que resistente é o que eu não sou.

Queridos, o coração do ser humano é tão enganoso, a mente dos mais normais é tão neurótica, que pode acreditar, alguém que te "ama" pode do nada te odiar de uma hora pra outra! De uma palavra pra outra. Não a culpe, ela é humana, só podia ser assim mesmo. Isso é bom também porque eu passo a compreender melhor as pessoas, inclusive as que me feriram em algum momento da minha vida. Além de que eu me retiro desse lugar de importância na vida alheia e aceito a minha pequenez, aprendendo e continuando na minha luta pelo "negar-me".

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Começando desta triste, mas libertadora verdade, chego à segunda conclusão: ninguém é necessário pra ninguém. Aqui não afirmo que não "precisamos" do próximo. Somos seres sociais e não tem pra onde correr. Eu preciso do meu próximo, mas não dependo dele emocionalmente. Ou não deveria. Eu tenho minhas carências e fraquezas e nunca, nunca, nunca vou achar alguém que supra todas elas. Só Deus mesmo pode tampar qualquer buraco de alma depenada dentro da gente, porque ser humano nenhum pode te completar. 


E como poderia? Se sou tão incompleta assim, não é porque quero aliviar minha barra que digo com certeza que o outro também é. Como alguém mais ou tão incompleto quanto eu pode me saciar? Pode me oferecer tudo isso que eu não tenho tampando todos os males de faltas desconhecidas que eu tenho? Nem psicólogo nem psicanalista nenhum resolve esses tipos de problema pra sempre, o que se faz é fazer o outro ali chegar à conclusão de que essas coisas são assim e pronto e fazer com essa pessoa agora pense: "tá, e agora, o que eu posso fazer?". O que eu posso fazer? Eu acho que eu posso me relacionar sem esperar que o outro me dê o que não tenho e entendendo que ele é um comigo, mas é um "sem migo" também.

Aprendi também que não gosto nem quero que ninguém sofra por mim. E isso pode ter lá sua dose de altruísmo, mas a verdade é que na maioria das vezes me enoja e me passa a sensação de fraqueza e dependência emocional, e o pior de tudo: eu me preocupo, eu fico com raiva, mas fico preocupada e fico achando que tenho responsabilidades para com aquela pessoa. 



olheosmurosAprendi também que eu sou capaz de não acreditar no que disse O Pequeno Príncipe (livro que, por sinal, nunca li): "Tu és eternamente responsável por aquilo que cativas". Eu posso cativar alguém e aí fico eternamente responsável por ela?! PERA LÁ! É muita pressão! E quem disse que eu queria cativar alguém?! Sinceramente, acho que ninguém é responsável pelo ato de ninguém. Devemos sim nos importar com os sentimentos alheios e as opiniões também, afinal de contas tô no mundo e não tô sozinha, mas não a ponto de me tornar responsável pelo outro, ser o motivo do outro fazer isso ou aquilo. Não, isso não aceito.

Por muito eu me prendi em certas situações por pensamentos do tipo: "mas se eu não tiver lá, ele isso", "se eu não fizer isso, ele isso", "se eu não puder dar isso, ele isso"... Eu só esqueci que o "isso" era dele e não meu! Que quem ia fazer o isso era ele e não eu. E que isso podia acontecer independente do meu mas e que não dependendia do meu se!

Aprendi também que, mesmo depois disso tudo, eu quero alguém também. Ou não. Aprendi também que eu devo ter algum problema, porque todas as namoradas dos meus amigos são ciumentas e eu nem me importava quando o meu ex saía. Então foi isso! Achei o erro! HAHA Só que não. Eis que te digo, estou tão dura e empedrada que qualquer gracejo fofo, sorte a sua. ou não. Acho que não. Melhor não mesmo. 

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Meio philo, meio sophia.

Gostaria de ver (viver também, pode ser) um romance que tivesse o mesmo tom de uma conversa sobre um livro, de uma conversa meio philo meio sophia, de uma conversa sobre um assunto polêmico, mas aquelas conversas mesmo, não aquele vômito de opiniões intransigentes onde ninguém quer ouvir ninguém. Um romance com tom de conversa intelectual ou metida à tal. 

Eu olhei alguém esperando que o amigo da mesa terminasse de ler um trecho que devia ser muito bom de um livro velho, com capa marrom, bem folheado. Ele esperava ansiosamente, com um sorriso no canto da boca, daquele que diz assim "é muito massa, né?", mas pacientemente também, esperando que o outro ali em frente se deliciasse tanto quanto ele se deliciou lendo aquilo. Claro que isso não aconteceu, mas a conversa rolou. Eles riam com desdém por não concordarem com o autor ou com alegria porque encontraram alguém que escreveu o que eles pensam, podia ser as duas coisas também, não consegui identificar. É uma delícia ver pessoas conversando assim. Um deles fala algo que contradiz e, tudo bem, não tem briga, a gente pode terminar tudo com um "é, é pra se pensar, mas..."

Mas aí a namorada do cara mais bonito chega. Acabou aquela cena tão linda de se ver! Essa discussão febril, essa troca de ideias... Por que ela não se sentou? Porque ela era muito fofinha. Sério, não sei como aquele rapaz namora aquela moça. Aquela cara de filósofo, de quem tanto pra falar e só tem uma namorada pra beijar... Preciso conhecê-la e cair na real. Preciso descobrir que estou muito errada. Ele se levantou, se despediu e foi, de mãozinhas dadas, conversando sobre alguma coisa muito desinteressante provavelmente, embora.

Eu fiquei pensando... Será que um casal de namorados podia ter uma conversa com esse tom de conversa sobre livro? Porque há de se pensar que é necessário que eles concordem em quase tudo, não é? E se não? Há de se concordar que geralmente a namorada ou o namorado vão peneirar aquilo que o outro lê, "mô, não liga pra isso não, nem lê essas coisas!"

Eu fiquei pensando: seria possível um casal conseguir conversar com aquele mesmo sorriso de desdém ou de concordância, com aquela mesma paciência, com o mesmo jeitão de "tudo bem, você não concorda comigo, mas tudo bem"?

E outra: ainda tem o contato! Conversar sem beijinhos, sem mãos dadas, sem aquela "cumplicidade" assumida e aquela coisa que fica na cara de "não importa a bobagem que ele falar, vou concordar com ele!", ou pior: "tô com vergonha do que ele tá falando", ou pior!: "mô, não fala isso, não quero que falem de você".

Será possível? Ah, meu Deus, tem que ser. Eu quero um romance assim. Eu quero um romance onde eu possa sentir que por alguns minutos eu não namoro com aquele ser inteligente ao meu lado e possa vê-lo como só mais uma opinião. Só mais uma opinião, que pode não ser a minha. Que eu possa ter a certeza que fora dali seremos dois de novo e nos respeitaremos, e as discordâncias não soarão como provocações idiotas e nem o mal estar que comumente às vezes surge nesses debates irá também estar presente na conversa de depois, de nós dois.

Mas ninguém deve estar entendendo isso aqui. Deve ser tão idiota que a melhor imagem que consegui pra esse post ridículo foi aquela mulher com o livro. E só porque lembrou a minha pessoa observando, não a cena que eu queria ver. 

Gina quer amor à primeira vista.


(2) Tumblr

E Gina percebe então que o que ela andava fazendo afinal não era tão bom como pensava. Por que ficar mexendo nisso? Por que tantas perguntas? Por que mesmo ela ia querer saber o que aconteceu, e o que ele pensou, e o que ele sentiu, o que ele acha disso tudo...? Ah!, pensou, Eu tenho que me desapegar!

Mas desapegar de quê, Gina? Desapegar de quê... se nem pegar o cara tu pegou?!
Desapegar de quê, Gina? Se nem sequer ele te olhou! Não te olhou nem com ternura, nem com os olhos de comilão, nem com piedade, nem com tesão nem com nada, ele não te olhou!

Ah, sabe como é, a gente sempre cria expectativas...

Gina, minha querida, pare já com isso! Foi só uma volta, foi só mais um dia comum na tua vida, minha linda, e você queria mesmo arranjar o amor, a alma gêmea, assim do nada?

A verdade é que Gina ainda acredita em amor à primeira vista. Não tem disso não, Gina. Tem é momento.
O momento da negação, o momento da aceitação, da teorização, da avaliação, da pegação, da brincadeira, da choradeira, de desilusão e da decisão: tá, com você acho que dá pra passar por esse mundão sem me sentir tão só...

A verdade mesmo é que agora começo a achar que Gina quer amor à primeira vista. Por que ter que escolher, analisar e decidir... Não, não queremos discutir de forma tão linear e pragmática assim o amor, né?

Porque no fundo, Gina, é tudo solidão.


sábado, 15 de junho de 2013

Mas que livro eu seria?

Eu seria um livro desses que não é muito caro e é distribuído comercialmente em uma quantidade considerável, em uma quantidade suficiente pra ficar na biblioteca das escolas ou em algumas estantes de adolescentes fora de suas épocas. Eu seria um desses livros que não é relido umas trezentas vezes, mas que lido uma vez, pronto, tá bom, se causou diferença, causou, se não, tudo bem, se pelo menos não ficar naquelas listas de piores do ano, está ótimo. Nem precisa me comprar, posso ser um desses livros que é emprestado, vai de mão em mão porque alguém disse que é bom e passa, e aí passa, passa, passa, todo mundo leu, gostou, devolveu ao dono, pronto. Fez o que tinha fazer, passou por onde tinha que passar, foi lida por quem tinha e quis ler, ficou com algumas páginas rasgadas, as orelhas machucadas, a capa amassada, mas está ali ainda e a história não se perdeu. Pronto. Minha história seria uma tragicomédia, porque rir é o que há de melhor pra se fazer, e porque eu não preciso mais me preocupar tanto assim com tudo, nem me culpar por tudo o que aconteceu. Eu não me escreveria, longe de mim, não aguento autopromoção, autobiografias e etc.Não confio em mim mesma nem no que porventura escrevo, daqui a alguns dias eu posso negar, desconstruir e desconfiar de tudo isso que tô escrevendo agora. Eu seria só mais um personagem, uma ideia de um autor que tem uma ideologia e colocou no papel, seria só mais um de seus milhões de livro e com certeza eu não seria o livro mais livro. Esse Livro já existe. Esse Livro é Ele, não eu. E isso é que é o bom. O livro não seria "eu ali", não seria meu, eu não seria de mim, eu não seria a melhor. Estou aprendendo a me negar.

Imaginei a minha morte e fiquei muito feliz. Não, não fiquei com vontade de morrer nem estou querendo me suicidar, mas fiquei feliz porque não me preocupei tanto comigo na minha morte. Eu me preocupei com quem estava ao meu lado desesperado e lembrei, por poucos instantes, das pessoas que eu estava deixando pra trás... E não me preocupei também. Fiquei muito tranquila e acho que isso tem a ver com a tranquilidade e confiança que estou aprendendo diariamente a ter em Cristo. Eu não me preocupei porque sabia que alguém melhor que eu podia cuidar de cada um, porque aprendi que ninguém "depende" de ninguém.

Eu estou aprendendo a me negar, a desapegar de mim mesma, a cair na real: não precisam de mim. Não sou eu que faço o trabalho, não sou eu a responsável pelo trabalho dar certo ou não, não preciso nem quero nem tenho que ser conhecida ou reconhecida, eu não. Não preciso nem tenho que depender de alguém, se não Ele. Não preencherei o vazio de ninguém, assim como ninguém preencheu o meu até hoje. Isso É ÓTIMO! Isso é me "desreponsabilizar", no melhor sentido e pro melhor motivo. Só Ele pode, e pra isso é preciso que eu me negue. Negando-me é possível que tudo isso seja preenchido. Aí vem a calmaria, aí vem a segurança, aí vem a certeza, ... E junto com tudo isso, vem a minha cruz. Tomo a minha cruz, Senhor. Eu tomo a minha cruz e Te sigo, porque o Senhor pode me ajudar a carregá-la, porque já me neguei, já sei, não posso carregar sozinha, não aguento esse peso todo e não tem motivo pra isso... Se o Senhor diz que meu fardo é leve, então eu acredito. Eu me nego, eu tomo a minha cruz e eu Te sigo. Eu me nego e aí fico tranquila, porque dessa maneira o Senhor pode entrar, fazer o que quiser comigo. Eu não quero reagir à tua ação.

Eu me nego, eu tomo a minha cruz e eu Te sigo, Senhor. Te seguindo, ela fica bem mais leve, me negando, eu fico bem mais leve! Aí eu entendo, Senhor. Eu entendo o que queres dizer com a liberdade que a Graça me dá! Eu entendo porque a Graça faz sim todo o sentido pra mim... Porque que, se eu não me negar, não me desvencilhar de mim mesma, eu caio na mesma rede, eu caio nos mesmos erros e tudo parece tão pesado de novo... Eu entendo também porque mesmo te seguindo com uma cruz nas costas as coisas ainda ficam leves, o problema não causa tanto medo, e se causar, ainda estou firme. E daí?

Esquecer de mim foi a melhor escolha que fiz. Não querer me sentir importante foi a melhor coisa que fiz. Não me importar se não se importam comigo foi a coisa mais tranquilizadora, mais consoladora e libertadora que fiz! Isso, peço, não confundir com indiferença ou excesso de amor próprio, não se trata disso, é o inverso disso. Não sentir mágoa nem rancor nem dúvida do carinho/afeto que podem sentir por mim, ou não, mesmo se não fui esperada, ou não. Não me preocupar nem me doer se no fundo só me querem tão bem também porque sou apenas necessária, não tanto pelo que sou e por conta disso posso oferecer. Não sentir que isso tudo é porque a minha mãe não me esperou, nem se preocupou em que nome dar pra mim, se não teve festa quando eu nasci, se um dia minha morte foi esperada e até pedida, eu não me entristeço. Isso tanto faz. Eu não sei por que eu deveria mesmo ser motivo de sofrimento ou preocupação pra tantas pessoas. Se tudo isso talvez foi o motivo de eu ficar assim tão "mal-amada" por mim, então tudo bem. Que que tem? Eu tô tão tranquila, o amor que eu conheci e recebo transborda, passa disso, vai além. Não que não seja importante, é importante como uma piada é. Passam a ser só umas histórias pra contar, não motivo de preocupação ou revanche. Simples assim.

"Pra dilatarmos a alma temos que nos desfazer, pra nos tornarmos imortais a gente tem que aprender a morrer com aquilo que fomos e aquilo que somos nós..."
(O mérito e o monstro - O Teatro Mágico)

"... negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me." (Mt 16:24b)

E como um girassol, Senhor, eu me coloco diante de ti...

e com é bom também!

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Não é hora, sabe.

E então chegou o dia.
Chegou o dia da amargura.
                                         (Mais uma dessas mal amadas:
                                          Uma vez um erro e então lamúrias sem fim.)
Questionando o amor que lhes aparece
e até os dos outros. Nem lhe apetece.

Chegou o dia das contas:
Contar o quanto desejou
Contar agora o quanto desabou
Contar agora o que lhe desmonta.

Chegou o dia da amargura e do sorriso
Falsa liberdade e
Falsa impressão de que
                                        nada está importando
                                             nem cutucando
                                              nem tocando
                                        nem fazendo diferença.

E queria tanto,
Agora brinca tanto.
E quanto está perto, espanta
E quando perguntam, nega
E quando quer, não quer
E quando precisa, usa
E quando se doa, se vende
E quanta amargura, meu Deus!
E quanta mentira.

Não quer, aceitou.
Não precisa, aprendeu.
Não merece, entende.
Não é hora, sabe.

Steffi de Castro

"I'm FINE"

terça-feira, 11 de junho de 2013

Somos todos inconstantes - quotes

Hoje estava lendo a matéria capa da revista Ultimato de novembro de 2012, ano XLV, nº 539: "Somos todos inconstantes, mas Deus não desiste de nós." Essa matéria tão simples e rica me serviu como um consolo, reafirmou coisas de que eu já tinha conhecimento, mas parece que, de alguma maneira, ali foram me mostradas como algo extremamente novo. Tomo a liberdade de transcrever aqui algumas partes da mesma:


Meias-voltas para trás e para frente
Na experiência de cada cristão há situações confortáveis (quando o vento contrário não sopra) e situações desconfortáveis (quando o vento contrário sopra). Tem sido assim no tempo (em qualquer época) e no espaço (em qualquer lugar), Longos ou breves períodos de plenitude espiritual são intercalados por longos ou breves períodos de esvaziamento espiritual; longos ou breves períodos de euforia são intercalados por longos ou breves períodos de desalento. O Eclesiastes trata deste fenômeno: há tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de derrubar e tempo de chorar e tempo de ficar triste e tempo de se alegrar, tempos de chorar e tempo de dançar, tempo de rasgar e tempo de remendar, tempo de guerra e tempo de paz (Ec 3: 1-8). Não há uma linha reta e contínua entre o nascimento e a morte. Antes, nessa caminhada há curvas para a direita e para a esquerda, depois das quais volta-se à linha reta e contínua. Além da curvas, há meias-voltas escandalosas para trás e meias-voltas gloriosas para frente. Porém, o verdade cristão não é encostado, mas alcança o alvo, chega ao final da reta. Nunca sem problemas.
 [...] Todavia, em última análise, é a graça soberana de Deus que muda surpreendentemente o rumo da vida daquele que está em crise, arrancando-o dela.
Quando o pecador se lembra, Deus não se lembra
É muito mais simples do que pensamos. O mais fácil está em nossas mãos, o mais difícil, nas mãos de Deus. É uma cadeia de eventos. É preciso lembrarmo-nos das coisas esquisitas que praticamos para termos nojo de nós mesmos: "Então vocês se lembrarão de todas as coisas vergonhosas que fizeram" e "ficarão com nojo de vocês mesmos, por causa de todas as coisas más que fizeram" (Ez 20:43). É preciso ter nojo (sensação de culpa) para confessar. Foi o que aconteceu com o chefe dos copeiros de Faraó: "Chegou a hora de confessar um erro que cometi (Gn 41:9). Foi o que aconteceu com o filho pródigo. Depois de comer lavagem de porco o rapaz caiu em si e confessou: "Pai, pequei contra Deus e contra o senhor" (Lc 15.18).
É preciso confessar para não lembrar mais. As coisas esquisitas foram por água abaixo; são agora águas passadas, compaixão de nós e vai "eliminar nossos maus atos e jogar nossos pecados no fundo do oceano" (Mq 7.19). O Senhor dá a sua palavra: "Sou aquele que resolve o problema dos pecados de vocês [e] não guardo a lista de seus pecados" (Is 43.25). Essa é uma das maiores manifestações da graça de Deus: quando o pecador se lembra, Deus não se lembra. Só depois de perdoado por ele, o pecador pode (e deve) se perdoar!
A plena consciência da condição humana traz vantagens de muito valor
Além de ser uma obrigação, a plena consciência da condição humana provoca três vantagens de muito valor. Primeira: eu me compreendo melhor. Sou tentado pelo mal porque sou humano (Tiago diz que só Deus "não pode ser tentado pelo mal"). Estou rodeado de fraquezas, pois sou humano. Sou um, ontem, e sou outro, hoje, porque sou humano. Tenho inveja, tenho raiva, tenho fortes e insistentes ressentimentos contra os que me machucam, penso só em mim, não amo a Deus e ao próximo como deveria e não tenho paciência porque sou humano. Segunda: eu me obrigo a ter misericórdia para com os outros. A rigor, não sou melhor do que meu irmão nem ele é pior do que eu, pois ambos somos humanos. Nelsos Rodrigues, o mais influente dramaturgo brasileiro, dizia: "Se todo mundo conhecesse a vida íntima de todo mundo, ninguém cumprimentaria ninguém". O médico francês Maurice Fleury afirma o mesmo: "Depois de percorrer todos os escaninhos da alma humana, cheguei a uma conclusão: tenhamos piedade um dos outros". Se meu irmão tem um cisco no olho, eu tenho uma trave no meu. Se ele tem uma trave, eu tenho um cisco (Mt 7.3-5). Terceira: eu contrario a minha soberba. Por que Paulo e Barnabé não permitiriam que a multidão os tratasse como deuses em Listra? Não façam tal coisa - reagiram os dois missionários -, pois "nós também somos humanos como vocês" (At 14.15). Se não reconhecesse que era humano, o escritor alemão Johann Goethe jamais confessaria: "Não vejo falta cometida que eu não pudesse ter cometido". A percepção da nossa condição é uma enorme barreira contra a soberba. Quando se passa por cima desta barreira, somos derrubados. Quem se esquece de que é humano e começa a agir como Deus é obrigado a retroagir ao ouvir a voz de Deus: "Cheio de orgulho, você diz que é um deus [...], mas você é um homem e não um deus" (Ez 28.2).

Nada mais.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Se eu puder ou não, te consolo e descanso.

Um dia eu orei: 
"Senhor, me use, que eu seja um objeto em tuas mãos, que as pessoas te sintam quando chegarem perto de mim. Não por mim, mas por Ti."

Eu quero que as pessoas sintam o mesmo consolo e amor que eu sinto que Jesus tem por mim e o quanto estou cada dia mais descansada por tentar permanecer Nele, quero que sintam o quanto Ele nos quer por perto, muito mais, infinitamente mais, do que o que eu posso sentir por Ele. Eu orei e tive respostas diversas nos dias seguintes. Certa vez, num ensaio de um grupo de teatro que participei por pouco tempo, eu não precisei falar nada, mas um dos atores, jovem e homossexual, me perguntou: " você acredita em Deus, Steffi?". Eu fiquei feliz, eu não precisei falar, mas ele se sentiu à vontade pra contar as suas coisas. Tempos depois continuo fazendo a mesma oração e agora as respostas vêm de outras maneiras:
"Steffi, não sinto mais vontade de viver. Não aguento mais esse lugar."
"Steffi, estou péssima, aconteceu isso, isso e isso, não aguento mais, quero interná-lo"
"Steffi, estou tão mal, não sei o que está acontecendo, estou em crise"...
Eu posso tentar ser compreensiva e responder apenas baseando-me no que aprendo vira e mexe nas aulas do meu curso, de certa forma, acredito que é isso que as pessoas procuram às vezes em mim, mas como não dizer nada sobre Aquele me consola? Independente deste meu conflito, é importante dizer também o quanto a profissão que eu escolhi pra mim tem a ver com essa vida louca que eu levo. O quanto eu posso servir mesmo sem falar sobre Ele, mas falando de todos os jeitos ao mesmo tempo...

Ouço coisas tão tristes, vejo contextos tão desoladores que, de fato, parece que os problemas não têm soluções. Eu gostaria de dizer palavras diretas e bonitas e as pessoas simplesmente sentirem. Como falar para alguém que não crê e parece estar tão longe disso que, há sim alguém que é real, que não é simples imaginação, que de fato consola, que de fato tira o peso das nossas costas, que deixa nosso fardo leve?

Como falar? Às vezes não tem como falar, já aprendi. Às vezes, na maioria das vezes, o melhor falar é o abraçar, o melhor falar é o ouvir, o melhor falar é não julgar nem ficar identificando problemas a serem resolvidos, às vezes o melhor falar é só estar ali ao lado.

Vejo as pessoas saindo pro "campo" de evangelismo e contando quantas almas fizeram crer... Eu não consigo, desculpem-me. Desculpem-me se eu não consigo fazer as pessoas crerem, desculpem-me se eu realmente não gosto disso, desculpem-me se não gosto desses métodos, desculpem-me mesmo, peço no entanto, que me entendem: eu não vivo numa redoma, eu não vou ao "campo", eu estou o tempo todo nele, e acreditem: não é fácil. Não estou dizendo que o que eu faço (que na verdade é muito pouco) é mais importante ou melhor, não quero desmerecer quem ninguém que trabalhe dessa maneira, só digo que eu não me encaixo nela.

É muito simples identificar um dependente químico quando ele está na rua sem ninguém, é visível. Mas identificar os que estão dentro de casa, os que sorriem, os que andam com você o tempo todo, o que está debaixo do seu teto, é difícil. É difícil manter relacionamentos, é difícil ser amável ao mesmo tempo que é necessário ser duro em alguns momentos. É complicado pra alguém que tanto já apanhou entender Jesus como Salvador e Senhor. É difícil saber que alguém precisa de Jesus naquele momento e ainda assim a pessoa O nega. 

Evangelizar pessoalmente, sem esperar que a pessoa se converta, tem sido uma questão crucial na minha vida. As pessoas que aparecem pra mim parecem tão ou mais problemáticas do que eu. E como ajudá-las se ainda nem me resolvi? O que falar? Como falar? Todos os dias eu acordo pensando nisso, pensando em como ajudar essas pessoas... Que eu amo tanto, que eu amo tanto, que eu amo tanto...

Antes eu me preocupava muito em ter o que dizer, ter que fazer, ter o que e que falar, preocupava-me com a minha eficiência em servir aquela pessoa, mas eu também tenho problemas, eu também estou sendo diariamente tratada, e é por isso que, eu tendo ou não o que fazer, descanso: o trabalho não é meu. Se elas se sentem à vontade comigo, ouço, se eu tiver o que falar, falo, se tiver como abraçar, abraço, choro, oro... Eu faço o que acho que posso fazer, porque o resto não é comigo. E se eu não puder fazer nada além de orar em casa, então não faço nada além disso, o trabalho não é meu.

Uma musiquinha simples me consolou tanto esses dias, eu entendi mesmo como algo de Deus especificamente pra mim, como um consolo, um leve "puxão de orelha":


"Não tenhas sobre ti um só cuidado, qualquer que seja, pois um, somente um, seria muito para ti. É Meu, somente Meu todo o trabalho, e o teu trabalho é descansar em Mim. Não temas quando enfim, tiveres que tomar decisão, entrega tudo a Mim, confia de todo o coração." Milad



Nem sempre vou poder dizer algo que faça você se sentir bem, mas eu sempre estarei aqui, sem esperar retribuição, eu tentarei, sem esperar te transformar num crente, sem esperar que entenda tudo o que porventura eu tente te explicar. Eu não sou Deus, mas tenho um que pode te acalmar. Eu sou crente, mas não espero que você se torne um pelo o que eu disser, e sim porque você precisar saber que precisa Dele, eu posso te avisar, mas só você pode decidir crer, depende de você e Dele.